segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Poema 104 - Mortes II

Mortes II

Morrer, mil vezes morrer
Se for esse o preço, eu pago
Morrer para ver nascer
A flor no meu rincão, no pago

Morrer, bem destruído
Sem lamento, som ou gemido
Encontrar na morte à vida
Desperdiçada nessa guerrilha

Morrer em Tordesilhas
Dividido meu mundo no mapa
Mas morrer longe das ilhas

Íntegro em mil mortes
Se assim for, que benção
Seria eu, um homem de sorte

Poema 103 - O Tango e o Trago


Mais uma dança
Sempre há tempo
Para dançar ao vento
Uma última dança

A saideira da vida
Como o último trago
Que seja um arraso
Como uma forte bebida

Que seja a dança da morte
Um tango forte que corte
o último trago de ar

Fazendo calar as pessoas
Mas que deixe a vida falar
Do trago que ainda e(s)coa

Poema 102 - O Jogo


A palavra certa
Como no alvo, a seta
É um dom e habilidade
Deste homem de vaidades

Panos quentes em pratos frios
Resolvendo tudo desviando-se
Roubando no jogo e admirando-se
Da habilidade de puxar os fios

Com gestos e certa posição
Consegue o que quer ter na mão
Mas brincava no jogo sem proteção

Encontrou jogadores melhores
Apanhou de entre-linhas e pormenores
Saia do jogo, antes que este o devore

Poema 101 - Escolhas e Vícios


O difícil não é escolher
O caminho para a vida
É dífícil dar saída 
Para hábitos que teimo em ter

Estão marcados a fogo
Faço de novo o jogo
É compulsivo, tal comportamento
Mas fui livre por um momento

Tal liberdade tornou fácil
Escolher e fui bem ágil
Em agarrar com as mãos

Gravei o caminho no coração
Mas ainda este é duro
E segue seu hábito soturno

Poema 100 - Constatação


Quando se ganha algo
Sem nem mesmo merecer
É divino, precioso, novo alvorecer
De vida, até de um fidalgo

Depois, a constatação
Um presente-maldição
Que te mostra tua fraqueza
Ser vil, biltre em franqueza

Entende-se a verdade
Para manter pela idade
O presente precioso

Deve-se ser grandioso
A alma melhorar e curar
A vida antiga no passado deixar

Poema 99 - Presente Divino


Um presente divino
É com certeza uma linha
Torta, de fluxo contínuo
Que te arranca da ilha

É de cunho grego
Dádiva e armadilha
Mostra a pequenez, faz ferida
Obriga a refazer o ego

Presente divino, com certeza
Causa dor muitas vezes
Mas faz crescer a alma

Com a dor vem a leveza
De deixar para trás
Uma vida já sem calma

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Poema 98 - A Culpa

A culpa

A culpa por si mesma tem função
avisar que há algo errado
mas cuidado com o fardo
de tornar a culpa punição

porque a todo momento alguém erra
mas não deixe cair por terra
a luz radiante da paz de espírito
de perdoar-se por livre-arbítrio

sim, eu sei, as trevas são aconchegantes
a auto-punição, as vezes, inebriante
mas acabou a era da auto-flagelação

liberta-te, deixa ter paz teu coração
porque a culpa é só um aviso
uma emoção, o fiel do teu juízo
para mudares na vida, a direção