domingo, 28 de outubro de 2007

Poema 136 - Sentidos

Distante e/ou perto
Real e/ou concreto
A cultura intangível
Afasta-se de forma passível

De quem a cria no tempo
O humano, esta fruta-razão
Analisa sua criação
E não entende seu tormento

A análise é fria e vazia
Pois os sentidos lhe dão azia
Só distante há a possibilidade

Mas é mentira essa verdade
Os sentidos são reais
Eles nos mantêm naturais

Poema 135 - Concreto ou Natural

Concreto e natural
Planta viva e artificial
Troca-se sangue por C H O
No fim a vida virá pó

No vira-mundo material
Troca-se por silíca e cromo
A vida apenas um antigo tomo
De byte infinitesimal

A vida nossa, vai-se a carne
Vem a máquina, a ela parte
Foi-se o pó sobre o pó

As dúvidas do homem tão só
Escolheu trocar a sensação
Pelo concreto sem tesão

sábado, 27 de outubro de 2007

Poema 134 - Indo além



É difícil e não entendo
Não tive escola para isso
Emoções de fluxo-chuvisco
Sentido feito de puro remendo

Sair de mim, como é possível?
Sair do egoísmo de capital criado
Para algo mais sublime e elevado
O Altruísmo de alma, próximo nivel

Talvez com a entrega plena
E o despreendimento sincero...
sim, uma verdade que vale a pena

Será que acharei o que quero? 
Quando sair e ir além entenderei
O outro, a emoção e renascerei? 

Poema 133 - Emoções Baixas


Meu medo era deixar
de sentir qualquer emoção
e viver máquina, só razão
pois elas podiam voar

Escapar para longe
com o primeiro vento
ficar a carcaça ao relento
um corpo com muita fome

É assim que se sente
quem vive perdido na mente
com um corpo de emoções baixas

não vis, más, torpes ou cruéis
mas intensas só nos papéis
de vidas envoltas em faixas

Poema 132 - O Outro


A medida de todas as coisas
não sou o eu antropocêntrico
está no outro, a mim excêntrico
alvo de minhas alcovas

Por que é tão árduo e sofrido
Expandir-me e ter empatia?
Sentir o outro, fico perdido
Serei incapaz desta rebeldia?

Sou tão cego e fechado
Vivo no sonho, isolado
E sozinho, posso viver?

Foi difícil, mas entendi a medida,
Mas parece ser infinita a subida
Para alcançar o outro e real ser

Poema 131 - Feridas Alheias


Enfim aconteceu, a morte
o silêncio na minha alma
de tudo que tenho, é o mais forte
quando não há sentido, não há norte

Foi-se e sei bem porquê
sem mais rimas fáceis
ou entendimentos táteis
foram-se as rosas do meu buquê

É estranho e bem pior
do que as dores de antes
estampou-se no meu semblante

é a sensação da ferida
feita na pessoa querida
destruindo meu melhor

Poema 130 - Burburinho

Burburinho, barulhinho
Instável, detestável
Silêncio, necessário
Sacio, ainda que precário

Barulhentas, vozes muitas
Arrebentas, mentes feitas
Na solidão do silêncio
Muito melhor que o barulho

O som cacofônico irritante
Antes em profusão amante
Som do silêncio, agora busco
Sons em lusco-fusco

O silêncio por si só
Traz paz à alma
Faz recesso na alma

Busco uma cura
Feita de silêncio e pó
Para a alma tornar pura

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Poema 129 - Blassé

Terminou, deveria estar sofrendo
Mas nessas horas, sinto o nada
Não é solidão ou vazio pelo que acaba
É anestesia, sem sentir, ir vivendo

É triste ser assim, blassé
A solução... Não, não há solução
Não é opção ser Poeta, é ação
(Pois o apático, finge que alguém é)
Pois vivo fingindo alguém ser

Mas também não é mentira
Anesteziar é diminuir
Não deixar de ter ou de existir

Mas cadê a cartola, de onde se tira
O fingimento mais que real
Dos sentimentos do meu quintal

sábado, 20 de outubro de 2007

Poema 128 - Manual


Se tu viestes com manual
Foi para o bem e o mal
Pandemônio e panacéia
São as páginas dessa novela

Causa angústia, dor de dente
Fecha as feridas, compreensão da mente
Manual da vida, .pdf, proteico ou partitura
Qual que seja, tens o código de leitura

Sobrepondo meu mundo em 2D plano
A tua visão 3D em picos
Mas o manual não sabia que combinando

Estes dois manuais de vida
Deu-se início uma partida
De elevação da alma e do físico

Poema 127 - Endócrino


Célula a célua, primeira comunicação
Boca-à-boca, no começo da civilização

Célula nervosa, comunicação à distância
Telégrafo, da cidade à estância

Neuroendócrino, da cabeça ao meu pé
Telefone, agora minha boca bota fé

Endócrino, meu corpo a longo prazo
Internet, expandindo até o espaço

Teoria do ponto único, espaço unificado
Droga, meu corpo ainda está confinado

Chega de me comunicar por células
Vou ficar conectado

Poema 126 - Valsa da Solidão


Eu a vi dançando sozinha
Com as luzes ora sim, ora não
Era a senhorita da solidão
Lá estava só e era minha

Olhou e me achou no escuro
Eu era ela, mesmo ela só
Em minha alma senti o meu pó
Que sugastes criando teu muro

Os meus próprios demônios te serviram
Ela era eu e todos viram
Meu medo exposto, vadia

Meus anjos cortejaste
Em lasciva luxúria os matasse
Santa! A vida que me devias

Poema 125 - Aniversário de Criança


Parabéns para você
Muitos presentes você vai ter
Muito bolo de chocolate
Brincando toda a tarde
Rindo com muita vontade
Desenhando a Hello Kitty
Não se esqueça do que eu disse
De estar assim contente
Com sorrisão de mostrar os dentes

Poema 124 - Poeta e Poesia


Não sou algum deus
Nem um mago atlante
Então só prometo o que é meu
Deste verso em diante

Meu coração ofereço-te
Para repousares a noite
Minha paixão é tua
Para esquentar-te em noites sem lua

Quisera dar-te as estrelas
Mas mortal que sou
Não posso tê-las

Fico com o que possuo
Meu verso, seco e puro
Foi só a rima que restou

Poema 123 - Feliz Aniversário - Para os Doces Anos


Que este ano que passa
Traga-te a brisa primaveril
Sem que jamais haja
Uma tristeza outonal febril

Que tenhas aprendizados verdadeiros
E sentimentos puros
Para achares o caminho derradeiro
Nessa jornada ao futuro

Que teus olhos se preencham de cores
Tua vida de intensos sabores
Brindando à vida em exaustão
Colhendo doces frutos em profusão

Saboreie com gosto cada um
Pois é fácil, dos frutos doces, nunca restar nenhum

Por isso, de tudo ruim, que nada te atinja
Protege então, teu coração
Deixando que o maior evento te tinja
Usando da vida, a grande canção

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Poema 122 - Poema de Amanhecer


Escrevo para saber o que penso,
Discurso solo, prática de pensamento
Existo no mundo digital,
Mais que na vida real
Onde as palavras não são gravadas,
Mas pelo vento levadas

Um poema de amanhecer,
Para não esquecer-me de você
Onde coloco minhas idéias,
Contando-te minhas verborréias

Idéias de uma mente fértil,
Em solos de rima pueril
Tentando contar meus pensamentos,
Para não esquecer de meus momentos

Sou aquilo que escrevo,
E assim me descrevo
Deixando para o momento póstumo,
Lembranças de meu túmulo

Na verdade palavras gravadas,
Em uma lápide arranhada
Sonhos de uma vida,
Desejos e sofia

A existência só é possível,
Pelas memórias, que incrivel
Dos outros que me vêem

Poema 121 - Bordieu e Biologia


Bordieu com sua super-estrutura
Impôs-me sua visão
Mas a biologia perdura
É onde está a diversão

Porque não posso entender
Como ver homem nos afasta
Da criação do Universo, Daquele que basta
Porque as exatas me fazer ver

Uma ordem de coisas, um plano consciente
Me dizendo que é mais fácil crer
Do que ser razão fria, descrente

Por isso a expansão do Universo me faz ver
A vida e tudo mais é visceral
Ciência é paixão e desejo animal

Poema 120 - Dias Ruins


Esses dias tão ruins
Fazem retornar em mim
O desprezo pelos humanos
Com a vontade de eliminá-los sem prantos

Apertar o botão vermelho final
Não deixar sobrar nenhum
Nem mesmo a mim
Pois não valemos o sal da Terra

Quanta benesse nesse mundo novo
Desumanizado, seria mais vigoroso
Sem este vírus: Humanidade

Porque nada há de bom nesse povinho
Que já se perdeu a muito do caminho
Morra logo, por piedade

Poema 119 - Raiva


Raiva explodindo no peito
Sobe como azia quente
Deixa um gosto amargo, diferente
De um jeito ruim, imperfeito

Mas não é do tipo rápido
Vulcão Krakatoa, explode e passa
É caldeirão das bruxas bascas
Lento fazedouro de elixir mágico

Elixir, não! Veneno maquiavélico
Raiva que pede sinistros planos bélicos
Sim! Raiva fria! Arquitetural

Raiva lenta, de pratos frios
Entranhada em cada poro, é pavio
Sedo e fogo contínuo e residual

Poema 118 - Idiotas do Mundo


Idiotas do mundo, uni-vos!
Vós que pregais sempre ajudar
Mas com seus cuturnos nazistas a andar
Acham-se no direito de punir-nos

Suas grosserias tamanhas
Defecando ordens constantes
Achai-vos da razão governantes
Mostrarei vossa natureza tacanha

Sois pedra por fora
Mas por dentro, o medo devora
Tua grosseria feita comigo passa

Mas teu medo que te faz pequeno
Continua lá, te mordendo
E eu de ti, faço graça

Poema 117 - Ódio


Ódio, passo seguinte da raiva
É sua mão sem controle
Cega em si mesma, de valores
Nulos, moral deslocada

Faz-me ver minha vilania
Vontade de matar, arrancar
O coração pulsante e deixar
Seu dono vê-lo, que alegria

Ódio, dá vontade de gargalhar
Faz com a loucura par
Pois seus planos são de intuição

Está no esfregar de mãos ardilosas
É mal puro de forma prazerosa
Pois não tem remorso de sua ação

Poema 116 - Meu Tempo


O mundo é uma roda viva, que vai e que vem
Um dia você está sozinho, noutro está com alguém
É uma bola de carne, que cheiro não tem
E a sua alma não vale um vintém

Você é fruto de todos que vieram antes
Mas também possui a loucura de Cervantes
E sente o frio solitário
Em um corpo antes temerário

Dizem: Não confie nos sentidos
Mas com eles impedidos
Aonde acharei a verdade

Sou depósito de esperança
Dos que já foram crianças
Mas como lutar contra tal realidade?

Poema 115 - Elegia de Medo e Vida


Arma-te com teus chicotes de medo
E agrida-me com tuas farpas
Minha armadura não protege de tuas armas
Meu escudo jaz no chão, esmigalhado

Vem o primeiro golpe, está nua a minha carne
Corta, dilacera, é na minha alma que arde
Vem o segundo golpe, prostro-me de joelhos
O sangue, visceral e anímico, entre a areia e os artelhos

Fraco, já não sinto mais a dor
Morto? Ou seria um estado de torpor?
É a vida em verdade que me alerta
Causa dor e sofrimento, como envenenada seta

Não tenho medo de ti, ó vida
Vinde, vinde certeira, causar-me feridas
Pois só morto não sentirei tua dor

Assim escolhi deixar-me atingir
Quando meu peito a ti abri
Escolhi não fugir ou esquivar
Da tua alabarda em furia a me queimar

Porque a morte consiste em não sentir
Por causa da dor e medo e desistir
Abandonar o sonho de viver e sorrir

Poema 114 - Esfinge Desgraçada


Ah, Esfinge, és desgraçada
Pois de enigmas, estas armada
Causando dúvidas a todos
Não dinstingues amigos dos tolos

Te delicias com o não-saber
Em ser o enigma de teu ser
Interrogação constante
De capa e chapéu ambulante

Ah, Esfinge, leão humano burro
És tão enigma de ti puro
Que nem a ti entendes

De questão em questão
Buscas a derradeira solução
Porque à ti mesma mentes

Poema 113 - Não é Primeiro de Abril


Acho que não estou enganado
É tão certo que não quero enxergar
Pois se verdadeiro, posso alucinar
Porque já tenho o coração esmigalhado

Meu medo nega a verdade
Porque por ser bom não quero estragar
Quero ir com calma e deixar firmar
O sonho se tornar realidade

Mas se sei que é real, por que nego?
Para isso prefiria ser cego
Porque é novo e estranho esse trajeto

Um sonho que já muito me feriu
Agora tenho certeza, meu coração abril
Te amo, isto não é primeiro de abril

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Poema 112 - Morte

Morte

Ó, Morte, desejo-te
Desejo-te por querer viver
Só quem muito vive pode morrer
Porque é o caminho para a vida ter

Morri e renasci e cresci
O fardo do ser mutável
Sofri, sorri e venci
A certeza da morte aceitável

Ao entender o fim
Sabê-lo e aceitá-lo
Morrer não é sofrido

Seja pelo espadachim
Arcanjos ou querubins
É um momento ansiado

Poema 111 - O Bom, o Feio e o Mal


O justo não tem mais vez
Nesse mundo tão burguês
Os heróis morrem todos
Rimos deles, estes tolos

O malvado agora manda
Governa com pulso de ferro
Nos pegamos a comanda
Gozando ao seu lero-lero

Mas no fim apenas o feio
Restará nesse passeio
Enterrará o justo e o mal

Rirá de todos por igual
Pois dele ninguém espera
Por isso, ele impera

Poema 110 - Vozes e Virtude


As vozes continuam 
Gritam ao redor sem parar
Obscenidades a mim sussurram
Querem nos conspurcar

Estão por toda parte
Os vultos e os cadáveres
Fazendo o mal sem alarde
Querendo nos devorar

Cadê a proteção
Contra esse mundo pagão
Que quer nos sacrificar?

Cadê a oração
A virtude do cristão
Contra o mal secular?

Poema 109 - Corre Para o Teu Fim


Vai, corre para teu fim
Deixar escorregar o carmim
Arranca tua própria vida
Sem sentido, tão vadia

Teu corpo acelera
Corre rápido pra morte
Aceite o rasgo, o corte
De quem apenas erra

Escolhe teu presente
De gregos para os troianos
Para os que ficam aqui lutando
Um recado deste ausente

Vai, corre para teu fim
Monstro sem tamanho
De perversidades afim
Seja teu adeus tacanho

Que apaguem da memória
A lembrança da existência
Desse monstro em essência
Desse verme sem glória

Assim deve ser
Sem adeus ou libação
Sem virtude ou aclamação
O fim que deve ter

Poema 108 - Leprosos e Desgarrados


Caiam, caiam todos
Não me importo
Lamurias e muxoxos
De vossos olhos rotos

São vossas almas descarnadas
Vossos peitos atravessados
Pelas flechas envenenadas
Da luxúria, tranpassados

Caiam, caiam todos
Rolem pelos esgotos
Pelas bocas fédidas em gosto
Rolem até o fim em desgosto

Rolem, caiam e me levem
Acabem com tudo isto
Não quero nem que seja breve
Gritem em uníssono

Gritem minhas culpas
Minhas mágoas, minhas desculpas
Meus erros carregados
Do passado com gostos amargos

Gritem que nunca amei
Gritem que já matei
Gritem que odeiei
Gritei que me matei

Gritem, mas me levem
Com a morte, me carreguem
Por que se nem digno eu for
De bater as portas
De deixar as botas
Só me restará a dor

Matem-me, vós devassos
Funéros e desgarrados
Prendam-me com vossos laços
Sou tão leprosos quanto vossos ascos

Poema 107 - Infeliz Desse Homem


Ah! Minha alma bandida
Expressa tua indefinição constante
Em sentimentos vários e conflitantes
É difícil saber das emoções sentidas

Elas, nunca podem ser una
São várias e díspares em seu  tempo
Comigo apenas por um momento
Como ar rarefeito ou bruma

Minhas emoções, meu tormento
Sei de todas elas a feiura
Mesmo as belas são torpes
Entre três ou quatro opções
Escolho talvez a mais nobre
Ou a menos vil, de menores pressões
Expresso para fora, assim, só uma
Dentre todos aqueles sentimentos

Infelizmente, a quem sinta às escondidas
E dê-lhes mais valor, mais vida
E as sinta como uma ferida
Rasgada no peito, uma avenida

Mas não é válido de alguma forma
O homem que escolhe o que por pra fora?
Se conheço o meu interior
Nebuloso, nefasto e sonhador
Não posso escolher o que expressar naquela hora?
Mas de nada adianta a quem tem pele e chora

E se emociona, sente... intui
Para quem é feito de alma
E essa alma no mundo flui
O que se vê, não basta apenas 
E o que é expresso então, condena
Anseia do outro, muito mais do que isso
Não só físico, mas o por trás disso

Em um mundo interno de confusão
Já é difícil escolher qual emoção
Será levada a cabo quando sentida
Só torna mais difícil ver-te ferida

Quisera eu, poeta e racional
Entender minha parte emocional
Mas emoção não se entende
Se sente e se apreende

E quando está tudo em místura
De nada vale a escolha consciente?
Infeliz do homem que sente e se tritura
E sente de forma confusa e conflitante
Infeliz do homem que mente
Para quem vê além da carne ululante

Infeliz, ó homem, infeliz
Infeliz por não teres controle de ti mesmo
Por vagares no mundo a esmo
Infeliz por sentires em plural
Infeliz por seres tão mortal
Por que o pó é tua raiz

De nada valhe tua sensação
Pois quando é múltipla
Os outros sentem apenas a mais forte
E ela é de vício,  leviandade e é torpe
É a força maior do homem perdido
Infeliz desse homem bandido
Infeliz desse homem
Infeliz

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Poema 106 - Dias Ruins II

Dias ruins II

Aqueles dias ruins
Onde tudo dá errado
De andar com o pé virado
E gritar: Ai de mim!

Se transformam em alegres
Mesmo com chuva e temporal
Quando você percebe
Que a vida é magistral

Poema 105 - Buraco de Bala

Buraco de bala

No peito, buraco de bala
Geração anos noventa
Buraco que ninguém fala
Geração em morte lenta

Geração sem propósito
De tudo já foi tentado
Não esta presa no passado
Mas seu futuro não tem foco

Buraco do vazio capitalista
Nos tornamos consumistas
De dinheiro, pessoas e sensações

Nunca satisfeitos
Buscando tapar o defeito
Do buraco de egoístas percepções


Poema 104 - Mortes II

Mortes II

Morrer, mil vezes morrer
Se for esse o preço, eu pago
Morrer para ver nascer
A flor no meu rincão, no pago

Morrer, bem destruído
Sem lamento, som ou gemido
Encontrar na morte à vida
Desperdiçada nessa guerrilha

Morrer em Tordesilhas
Dividido meu mundo no mapa
Mas morrer longe das ilhas

Íntegro em mil mortes
Se assim for, que benção
Seria eu, um homem de sorte

Poema 103 - O Tango e o Trago


Mais uma dança
Sempre há tempo
Para dançar ao vento
Uma última dança

A saideira da vida
Como o último trago
Que seja um arraso
Como uma forte bebida

Que seja a dança da morte
Um tango forte que corte
o último trago de ar

Fazendo calar as pessoas
Mas que deixe a vida falar
Do trago que ainda e(s)coa

Poema 102 - O Jogo


A palavra certa
Como no alvo, a seta
É um dom e habilidade
Deste homem de vaidades

Panos quentes em pratos frios
Resolvendo tudo desviando-se
Roubando no jogo e admirando-se
Da habilidade de puxar os fios

Com gestos e certa posição
Consegue o que quer ter na mão
Mas brincava no jogo sem proteção

Encontrou jogadores melhores
Apanhou de entre-linhas e pormenores
Saia do jogo, antes que este o devore

Poema 101 - Escolhas e Vícios


O difícil não é escolher
O caminho para a vida
É dífícil dar saída 
Para hábitos que teimo em ter

Estão marcados a fogo
Faço de novo o jogo
É compulsivo, tal comportamento
Mas fui livre por um momento

Tal liberdade tornou fácil
Escolher e fui bem ágil
Em agarrar com as mãos

Gravei o caminho no coração
Mas ainda este é duro
E segue seu hábito soturno

Poema 100 - Constatação


Quando se ganha algo
Sem nem mesmo merecer
É divino, precioso, novo alvorecer
De vida, até de um fidalgo

Depois, a constatação
Um presente-maldição
Que te mostra tua fraqueza
Ser vil, biltre em franqueza

Entende-se a verdade
Para manter pela idade
O presente precioso

Deve-se ser grandioso
A alma melhorar e curar
A vida antiga no passado deixar

Poema 99 - Presente Divino


Um presente divino
É com certeza uma linha
Torta, de fluxo contínuo
Que te arranca da ilha

É de cunho grego
Dádiva e armadilha
Mostra a pequenez, faz ferida
Obriga a refazer o ego

Presente divino, com certeza
Causa dor muitas vezes
Mas faz crescer a alma

Com a dor vem a leveza
De deixar para trás
Uma vida já sem calma

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Poema 98 - A Culpa

A culpa

A culpa por si mesma tem função
avisar que há algo errado
mas cuidado com o fardo
de tornar a culpa punição

porque a todo momento alguém erra
mas não deixe cair por terra
a luz radiante da paz de espírito
de perdoar-se por livre-arbítrio

sim, eu sei, as trevas são aconchegantes
a auto-punição, as vezes, inebriante
mas acabou a era da auto-flagelação

liberta-te, deixa ter paz teu coração
porque a culpa é só um aviso
uma emoção, o fiel do teu juízo
para mudares na vida, a direção