segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Poema 27 - Me use, abuse, conduza


Quero ser usado, cuspido, surrado
Mas que me expliquem isso claramente
Sou marionete da TV sem mente
Forma/função implantadas e nascido

Desejo não pensar, não sentir, não amar
Quero ser guiado a ser como devo ser
Sem me preocupar em respostas ter
Quero ser programado para só rezar

Sim, diga-me como pensar, agir, portar
Sou só o que e o quanto posso gastar
E adoro ser assim! Fútil e vazio!

Carro, casa e cirurgia plástica
Belo enfeite de feição suástica
Estar eterno, aqui, no mundo frio

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Poema 26 - O Homem Atual


Fagia antropocêntrica das cores
Respiração cinza carbônica fatal
Sinto-me pedaço orgânico viral
Sou matéria de volito odores

Nas quatro estações revoluciono
E sendo bicho e planta e mineral
Descompasso humano, logo bestial
E das coisas fofas me emociono

Repudiando a mente e a forma
Quero em desespero sair da gosma
Mensageiro instantâneo, colossal

Digo adeus às desigualdades diversas
Desses muitos fazendeiros de promessas
E de botões sou maquinista sem igual

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Poema 25 - Vida, Morte, Arte e Poesia


Duas irmãs, Morte e Vida, conheço
Brigam e se entendem, morando juntas
Seu irmão, Apatia, nada pergunta
Vida namora Arte, sagaz começo

Vida vive o social, mas quer moda
Morte não ri, no mundo sem alma das leis
A Arte, encontra pelas tintas seus reis
E a Poesia gosta dessa roda

Se juntam, Vida, Arte e Poesia
Questionam do mundo a cinesia
A Poesia à Morte não entende

Os outros dois com a Apatia, deboche
Sinta essa casa de estranho porte
São claras relações que a todos prendem

Poema 24 - Homem-Coelho


Fofinho homem-coelho assassino
Traz escondidas cenouras afiadas
Baba! Ataca! Com raivas desvairadas
Gritando palavras de ordem, seu hino:

“Morram todos humanos! Porcos selvagens!
Livre seja cada coelho felpudo!
Belos, cheirosos e acima de tudo
Cruza rápida, viva! Libertinagem!”

Sou mamífero! Nada de pormos ovos!
Útero sim! Chocolates não são vivos
Viveremos juntos no reino leporino

Respeito todos, até mesmo as lebres
Já todos os demais, morreram em breve
Se não acatarem a este branquinho

Poema 23 - Boa Morte Pequena – O Prazer da Vida


Aos sentidos inundou-me, explodindo
Meus poros, puro suor, incontrolável
Começou lento, espalhou-se palpável
Eliminou-me o ar, sem dor, sorrindo

Olha e cheira e arranca gemido
Gela, aquela minha alma sofrida
Desliza sobre mim, a brisa gélida
Dizes tua litania sem sentido

Gemendo, contorcendo, não acreditei
Ao ser liberto, de agonia, gritei
A cama inundada, solo sagrado

Pensei: Morto! Com os sentidos fora de cena
Mas foi apenas boa morte pequena
Ligou tudo ao corpo, restaurado

Poema 22 - Múmias


Vencido meu maior inimigo
Morte, tua face já não temo mais
Sou da seleta casta: Imortais
Meu corpo é o soldo: Perigo

Vitória: Ilusão passageira
A morte descarnou-me o corpo
E jazo só em aguardo, morto
Ria, pois, tu! Alma carniceira

Passo tal galhofa: Morto-vivo
Através das minhas garras, uivo
Àqueles ao que é meu profanam

Preso eterno dessa cobiça
O ouro, meu despertar atiça
É fogo, novas mortes, demandam

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Poema 21 - Fênix Ressurecta

 
A Fênix ressurecta flamejante
Tal qual a primeira explosão
Foi espetáculo de fé e de comoção
De lágrima dos olhos gotejante

É a vida em sua total plenitude
Posta a prova por nossa maldade
A destruímos por vil iniqüidade
E ei-la retumbante de formosa virtude

Seu fogo purifica, mas destrói
E das cinzas, tijolo universal, constrói
Mas é mais do que simples matéria

Sua chama toca o coração
Modificando pedra em emoção
E da sombra negra, humana regalia

Poema 20 - Livre


Livre, para de tudo o mundo ser
Sem contransgimento ou lamento
Como manda ser o sentimento
Abraçando o mundo, sim, eu posso ter

As correntes caídas, sem amarras ou grilhões
Apenas a visão: Filho de mim mesmo
Entre os vários caminhos, não vago a esmo
E não tenho medo: Que venham os vendilhões!

Aonde vou, certeza não tenho
É um caminho de cegar meu cenho
Já que o futuro, é afável e é fardo

Mas se sou cinco em sentido
Que seja principal, caminhar sabido
Liberdade, sou teu e não tardo