Eu caminhei por mil caminhos
Em todos voltei ao início
Um viajante sem patrícios
De estradas sem destinos
Vagei em círculos a esmo
Buscando preencher o cálice
Da minha alma, meu desprezo
E lá, perdido entre álibis
Me vi sozinho, solitário, sem sentido
Arranquei meu passado pervertido
Fiquei vazio, mas leve e preenchido
Os círculos tornaram-se pedregosos
Retas tortas dos obstáculos leprosos
De escolhas e certezas enraizantes
Ainda que tímido, caíram os figurantes
É preciso agir, agir com cautela
Com visão e meta, se cancela
A dor? Ah, a dor! Essa faz parte
É vital, sentida, quase uma arte
Fugi de ti, como de tantas coisas
Fugi da vida e das decisões dela
Corri gritando minhas mazelas
Emudeci, escondido entre moitas
Fui encontrado pelas sombras
Minhas próprias, de vozes e coloridos
Farrapos de caminhos corroídos
Mordido por si mesmo, o Poeta tomba
Perdi assim a primeira prova
Agora a vida me cobra em exame
Bem-feito! Pedi meu próprio vexame
Agora, desiste Poeta e reprova!
Não! Não mais! É disto que é feita
A vida. De viver o que não se quer
De aceitar a areia na sola do pé
De curtir as bolhas sem receitas