segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Poema 36 - Elementos


O vento que percorre a montanha, sou
Rápido, logo se assanha, faceiro
Ao ver teus verdes vales febris ligeiro
Percorrendo altivo teus quadros, eu vou

Sou fogo ardente e teu vale queimei
Incendeio teu corpo; peço, cale-me
Com teus brilhantes olhos em mim, fale-me
Tua Kundalini com Do-In libertei

Percorrendo tua alma com minha foz
Minha alma atada em ti pelos nós
É suave e bruto rio corrente

Chegarei um naufrago em tua terra
Santuário espartano sem guerra
Descobri-me perdido em tua mente

Poema 35 - Amizade


Não há nada pior do que a amizade
Estar ao lado, acompanhar, tolerar
Ouvir o choro, dar conselhos, avisar
Não ser correspondido, vã vaidade

Não há nada melhor que a amizade
Ombros amigos com chinelos usados
Seguir em frente, mesmo se derrubado
Tendo apoio, orgulho, lealdade

Tão estranha essa tal de amizade
Na distância prospera em saudade
Se perto pode ter funérea ode

Tão sábia essa tal de amizade
Velhice conjunta na fraternidade
Tal qual vinho velho em carvalho nobre

Poema 34 - Loucura


A vida, uma estrada que já foi reta
Onde os tijolos sabiam seu lugar
Minhas palavras não flutuavam no ar
Estrada espiral, ei-la descoberta

Roda-mundo, quadrado incoerente
De tão solitária criou estranhos
Interadores sem nenhum real ganho
Mas só o triângulo-mudo os sente

Linhas retas ou pontos não sentimos mais
Cartesianismo serviu aos nossos pais
Pois só vemos forma e função disforme

Com teu dedo em riste, dissesses: Banal!
Questionando em mim, o que é real
Aos aqui presos, ordenasses: Reforme!

Poema 33 - Desejo Visceral


Espectros do anel, todos seremos
Escravizados por nossas paixões
Nossas almas serão nossas prisões
Crime e castigo por tudo querermos

Olharemos o céu e veremos cinza
Fruto da amargura da nossa fome
Em nossas testas, gravar-se-á um nome
Escravo; o nome que te satiriza

Vagaremos, mortos-vivos errantes
Buscando a esmo, a nova amante
Nos palmos secos, tudo que nos cerca

Seremos efêmeras cascas profanas
Conosco odor pútrido que emana
Não há esperança se assim encerra

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Poema 32 - Cores


Olho para os lados e o que vejo?
Peles, um mosaicismo de prazer, cores
Do negro pálido carmim de ardores
À tensão carnal, alcance do desejo

Explodo minha herança pigmentar
Crio sôfrego, pós-conceitos visuais
Sustentando cromóforos não usuais
Achar o gene primordial elementar

Em pré-conceitos de sangue me agarro
Nesse medo instintivo não tão raro
Sou demônio humano, Torquemada

Sofrendo em mais B, me desconstruo
Abandono inverdades, onde suo
Fica minha carne às carnes, atada