terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Poema 159 - Corre, corre Poeta

Corre, corre poeta
Corre para tua meta
A passagem é discreta
Mas a chegada é certa
Chora, chora poeta
Chora o leite derramado
Os ovos no chão quebrados
A dor do ser amado
Tolo, tolo poeta
De quereres da vida
De saberes a lida
De veres a ferida
Burro, burro poeta
Que se pede não alcança
E quase toca a esperança
Mas ainda tenta o perdão
Poeta, teu mal é solidão
É Poeta...
Sabes quem te espera
Sabes quem não abandona
Por isso Poeta, te esmera
Por isso confecciona
A vida nova que vem
Da Verdade que vai mais além
Ah, Morre Poeta
Morre para ver a festa


Ah, poeta tu és tolo
Tolo por veres no outro
O brilho de um falso ouro
Tolo por seres tu mesmo
Poeta de almas perdidas
Poeta de vida vadia
De sentidos a esmo
Mas tolo feliz de telices
Pois sabes da vida
Nada é igual ou mesmices

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Poema 158 - Máscaras e máscaras

Essa máscara de sempre estar bem
Mas estou enganando a quem?
A mim. Como sempre o grande tolo
Que sofre com a cabeça no lodo
Digo aos presentes não é lodo, é lama
Mantenho firme, consistente
Essa máscara que me dá fama
Sempre alegre e contente
Mas por dentro jazo ardente
De dor e culpa recorrente

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Poema 157 - Demolição

Vem tal qual morfina
No meu corpo recrimina
A lenda da vil paixão
Do meu peito beberrão

De quem caiu em sonhos
Com o enjôo no estômago
Com esforço, recomponho
A fonte da vazão, o âmago

Mas sem sentido e sem forma
À alma sem corpo, jaz morta
Sem processo ou construção

Estática, segue sem norma
São sementes sem uma horta
Da alma em eterna demolição

Poema 156 - Sonhos e Enganos

É, eu me conheço muito bem
Na dor, procuro sonhos
As ilusões, confecciono
Tenho prazer, mas quem não tem?

Procuro aquela ruiva já velha
Procuro aquela megacorporação
Ouso buscar a regeneração
Nisso tudo, minha entrega

Sou bom nisso, assumo
Enganos de Shakespeare
Enganos e erros de prumo

Mas a areia continua a se esvair
Areia que destrói o sonho
Mas protesto e a areia reponho

Poema 155 - Cultos e cultos

Por quê? Por que esse culto pela morte?
Esse desespero pelo fim?
Esquecemos do culto a vida
Vivemos sem vida assim

Por que as homenagens póstumas?
Ao invés de dizer que se gosta
Quando ainda temos tempo
Nas gotas que caem uma a uma

Vivemos com medo
Nessa vida ao meio
Somos caricatos arremedos

Deixando passar a paixão carmim
Pela beleza a nossa volta
Mude a visão antes do fim
Siga uma outra rota

Poema 154 - Capacitância Emocional

Sinto, penso, existo demais
E ainda assim busco o equilíbrio
Queria ser intenso em desequilíbrio
Porque somos capacitores emocionais
Prontos à explodir liberando toda a energia
Me viciei nisso
Não minto, já fui omisso
Mas sentir é suprema elegia
Agora vago do prazer à dor
Da paixão à solidão
Enlameando-me na emoção
E quero mais, quero tudo
Não posso parar
Não quero parar
Não pararei
Isso eu juro

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Poema 153 - Te Perder

Tive o pior dos pesadelos
Foi o primordial, o modelo
Te vi indo embora entre os dedos
Tu morreres, que grande o medo

Fiquei vazio de um vazio maior
Morri junto contigo e morri só
Era a solidão dentro de multidões
Te perder para a vida e seus vilões

A bagunça que fizestes foi enorme
O balde longe foi chutado
Não sei mais viver em ordem
A tua bagunça é um vital achado

Mas a dor de não te ver mais sorrir
Muito maior do que a bagunça
Que me acostumei ser justa

A dor, insuportável e eu vazio
Por sentir ter te perdido
Tudo que há no mundo
Cinza, triste, surdo e mudo

Que dor, que grande vazio
Hoje, eu senti ter te perdido
Meu mundo, tudo, havia morrido
Por instantes, o mundo ficou cinza

Estamos juntos a um tempo curto
Mas só por sentir assim no coração
O músculo parou, a alma em solidão
O corpo flutuando em surtos

Foi um estar só, maior que a solidão
Por um instante, a memórida da prisão
Prisão de tempo, em solitária