terça-feira, 10 de julho de 2007

Poema 83 - Dor de Cabeça


Ai, minha cabeça
Até parece enchaqueca
Mas é o labirinto
Que roda, isso eu sinto

Ai, minha cabeça
Que gira pra lá e pra cá
Me faz sentir o enjôo do mar
Querendo que o mundo me esqueça

Ai, esse meu giramundo
Só falta ver aura em tudo
Porque me deixa assim, mudo

Bem que podia passar ao dormir
Porque se ao acordar, ainda persistir
Deste corpo,  irei desistir

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Poema 82 - Medo e Jardins


Quero cultivar em mim
E também junto de ti
Um infinito e duradouro jardim
Tão belo quanto sons em latim

Porque sei que meu vazio
Não vem de estar longe
Porque estou contigo sempre perto
Dentro de meu corpo, isso é certo

É difícil lutar contra o costume
De sentir essa dor que já é roupa
Me faz transpor à ti, como trouxa
Sufocando sem necessidade o que nos une

É desses sentimentos ancestrais
Como o medo de sair das cavernas
Ou a perda das alegrias tão belas
Que me faz buscar refugio nela

Mas esses medos tão viscerais
Não provem em verdade de outro
Rastejam em meu lodo roto
Buscando embaçar meu ouro

Este meu lado mal
Busca solapar de forma tal
Destruir aquilo que construo
Pelo prazer de findar o futuro

Mas tenho sim uma certeza
É que é bom que prevaleça
Triunfante contra o vazio
E contra o nada tão frio

Este meu lado bom
E que ninguém seja culpado
Ou carregue por mim o fardo
De colocar-me no certo tom

Poema 81 - Ardor da Solidão


Eu nunca achei que sentiria
Algo tão diferente da paixão
Esse amor que as vezes é caixão
Me fazendo sentir que morreria

Não por motivo aparente
Em geral, sofrimentos da minha mente
Nem tanto inseguranças ou incertezas
Muito mais, um vazio, uma tristeza

De não estar ao teu lado
Te abraçando a noite
Pedindo para sair desse valo
No qual danço como uma corte

Achava que gostar não trazia dor
Mas aqui na corte, na valsa
A dor vem da distância falsa
Criada pelo meu ardor

Ainda que tão simples seja
Esse sentimento tão puro
Se junta ao meu lado imundo
Me destruindo, causando perdas

Queria estar sempre bem
Suportar a dor como ninguém
Mas me torturo ao gostar
Porque tornei a tristeza um lar

E luto contra isso, constante
Solidão, vazio, perdição como amante
Quando só queria teu calor
E por meus sentimentos, tenho pavor

Assim, jazo eu aqui sofrido
Por escolha própria, meu motivo
Não sei ao certo o que seria
Mas teu corpo ao meu, agora eu queria

Poema 80 - Estranho Ano


Porque você não me dá valor
Eu sofro com qualquer tristeza
Porque não sinto teu calor
Meu corpo se desfaz, com certeza

Eu fico aqui me esvaindo
Minha alma aos poucos se diluindo
Porque tudo fica vazio e sem sentindo
Quando estou sozinho, perdido

Porque tudo que te entrego
É o carinho quente de meu coração
Pedindo teu carinho em oração

Quase nada recebo e triste percebo
Que entrego mais do que ganho
Nesse tão estranho ano

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Poema 79 - Fraldas e Canhões


O sorriso infantil, pegue e puxe
Equilibre-o com o ambiente
Mate o sonho, traga razão coerente
Injete o real na veia, o resto sugue
 
Pois quando fraldas e bicos
Enfrentam as rodas e os canhões
Dos porcos humanos fanfarrões
São outros que se tornam mais ricos
 
Estão fora da cadeia
Aqueles que fazem essa ceia
São campos de ação supra-sociais
 
Somos mais culpados do que eles
Pois lhes deixamos ter poderes
Fechando nossos olhos aos marginais

Poema 78 - Sociedade de Plástico


Quero incluir-me nos excluídos
Pois estes já inclusos sociais
Plastificaram seus corações banais
Tornaram-se reais anjos caídos
 
Nessa eterna transição para o fim
Códigos de barras em vossas testas
Ainda venderam-se fazendo festa
Enchendo o corpo de vermes e cupins
 
Excluam-me, tenho olhos sem noção
Junto à minha boca sem vossa razão
Prefiro ser moído à plastificado
 
Joguem-me aos vermes da sarjeta
Prefiro, à tua morte lenta
Sociedade de plástico deidificado
 

Poema 77 - Te Quero

 
Te quiero do espanhol, te amo
Te quero do português, te gosto
Em vontades e intensidades variadas
Te quero como água no quente do verão
Te quero como calor nessa estação
Te gosto por seres vidro e diamente
Por este barro mutante
Te gosto de coração e hipófise
Te quero de púbis e costela
Sendo eu, sem preocupação ou hipótese
Te quero por gosto
Te gosto por querer
Pelos alegres dias chuvosos do teu rosto
Pelos tristes dias de sol do teu ser
E pelos meus pensativos dias cinzas
Te desejo como mulher, nua em pêlo
E como fada de fogo e zêlo
Te quero como mulher amante
Da forma como és, da forma como vieres
Dessa tua forma sem forma arfante
 

Poema 76 - Êmogo

 
Esfera metálica emocional
Rodopia com faíscas elétricas
De luzes brilhantes feéricas
No meu diafragma plural
 
É o centro de toda minha emoção
Espalhando pelo meu corpo o que sinto
Meu eu frágil e desmedido
Que oxida fácil sem aparente razão
 
Êmogo! Parte mais alegre de mim!
Êmogo! Parte mais sofrida de mim!
Meus sorrisos e lágrimas são teus
 
Minha razão é a ti submissa
Meu corpo te serve de pista
Sinto-me montanha-russa no breu
 

Poema 75 - Dor

 
A dor que nunca passa
Dor constante, vital
Me acompanha este mal
É zombeteira, faz pirraça
 
Dor, mesmo quando alegre
Até quando esquecido
Está apenas adormecido
O sentimento que me fere
 
É motor, combustível e amor
Vive-se com ela, mesmo com horror
É fruto e é semente na alma
 
Um pedaço constante de tormento
Sei que estou vivo, pois lamento
E agradeço essa dor fidalga
 

Poema 74 - Mortalha

 
Quando o ar explode em chamas
Deixando apenas cinza e fuligem
Com cheiro de vida queimada na paisagem
(Você sente perto a passagem)
Ouve troar a morte que a vida clama
 
Com o toque de dedos nervosos
Rasgando a fina película que separa
Os vivos dos mortos de forma clara
Vemos o fim com olhos receosos
 
Ei-lo! Mundo-Reflexo descarnado
Com rotos espíritos atormentados
Ao ver-nos, sucumbem a vileza
 
Alargam e atravessam a fenda
Roubam almas para na sua tentar emenda
Levam-nos para o seu mundo, final certeza

Poema 73 - Parasita Teu

 
Sim, sou completo parasita teu
Nos teus sentimentos me sacio
Teu corpo de tua alma, divorcio
Me escondo na tua parte que é breu
 
Chafurdo nessa lama emocional
Preencho o buraco em tua alma
Esperanca? Tristeza? Alegria?
Sugo tudo! Sou tão sentimental...
 
Nada sobrará quando eu terminar
Apenas uma casca vazia a desabar
E ainda estarei com fome
 
Saltarei de pessoa em pessoa
Multiplicarei-me, não importa a quem doa
Tristeza e solidão, meus nomes
 

terça-feira, 3 de julho de 2007

Poema 72 - Ocelo Luminal

 
Eu sou a dor da existência torturada
O cárcere privado de uma alma amada
A razão pueril descontente com o mundo
Vinda da existência fértil do puro, contudo
 
Sou também a incerteza do sorriso
Da pluralidade das ações humanas
Que pedem o grito solitário necessário
Quando vindos dos apertos de mãos tacanhas
 
Por isso quero ser o pequeno ocelo
Que só capta a luz, nada sabe da vida o belo
Menos ainda sente a dor do feio
 
Não sabe de onde vêm a luz
Porque a recebe de quem a produz
E por ser simples, é feliz desse jeito