sábado, 24 de fevereiro de 2007

Poema 54 - Ouça o Silêncio


Shhh.... Ouça teu próprio silêncio
Silêncio da alma e do corpo
Pegue firme e sinta o sopro
Na cadência do teu coração
 
Reduza e seja mais devagar
Desfrute tua vida sem esgar
Faça de todo teu tempo, teu par
Abandone essa Pressa-Canção
 
Da árvore, ouça o que corre
Os pés na água do rio, molhe
Na cidade, a vida perdura?
 
Dispenda seu tempo sem intenção
Ouça aquela voz, intuição
Não sejais razão, cabeça-dura

Poema 53 - Sobre Macacos e Homens

 
O Homem-Homem, primeiro homem
Nascido primata, adâmico
Sobrevivente messiânico
Dessas negras orbes que o comem
 
Macaco-Homem, guerreiro tribal
Nascido Adão primitivo
Exímio assassíno de Titãs
Abriu caminho para seu rival
 
Macaco-Macaco, estava lá
Só queria pular de lá p'ra cá
Nem sequer tinha preocupação
 
Quedou-se das árvores um dia
Ali, ansiou o que viria
Iniciou-se nossa maldição
 

Poema 52 - O Eu Profano

 
Peregrino, teu nome que eu chamo
Assassino, à sombra da tua alma
Celestino, na espera não acalma
Martírio, cor que odeio e amo
 
Espetáculo, é o som de teus passos
Receptáculo, sangue que não virá
Báculo, que se arma na tua ira
Especulo, no ver-te que te refaço
 
Meretriz, de um útero descarnado
Imperatriz, teu desmando bloqueado
Ladrão, pilhando almas solitárias
 
Vendi meu corpo em tua pele fabril
Imperador, em tua guerra pueril
Sacristão, sem alma humanitária
 

Poema 51 - Prisioneiro de Mim

 
Sou Paixão, desmedida da razão
Solidão, prisão no continente
Danação, ao encontro da gente
Salvação, espera a multidão
 
Nas paredes sem envergadura
Estou prisioneiro, sem grilhões
Mas tenho asas, minhas emoções
Venham as quatro, tal ditadura
 
Vossas chuvas de dano cerebral
Em meu corpo, machucam sem rival
Mesmo com dor, vestirei meu papel
 
Serei Paixão e Solitário
Monstro e Confessionário
Preso entre tais infernos e céus
 

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Poema 50 - A Dor Universal

A dor universal
Todos já a sentiram
De tão profunda é visceral
E sofrê-la, todos desejam

Rasga tuas entranhas
Entorpece teus sentimentos
Um jogo em que não se ganha
E só restam lamentos

Mas quando ela passa
Algo nós resta
E nos enche de graça

Fazemos festa
Explodimos em cores
Curando as dores

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Poema 49 - Vielas da Vida

 
Pobre daquele pequeno cão
Jogado, morto, largado
Teve o corpo soçobrado
Na vida foi pego na conta-mão
 
Trajou-se com peles, pêlo, couros
Teve belas patas enluvadas
Riscou o céu nas cartas marcadas
Fruto da ganância dos loucos
 
Viveu nas brigas de famílias
Não raro foi pedir-lhes comida
Sendo fortemente maltratado
 
Perguntava-se já quase morto
Com o frágil corpo já torto
"O que será que fiz de errado?"
 

Poema 48 - Eu, Nu em Fatias

 
Desisti de tentar me entender
Agora apenas me aceito
Capacitei-me assim perfeito
Quem souber explique o conceito
 
Sou normal, ainda que insano
Sou pouca carne e muito pano
Desdobrarei-me redecorando
Vejo dobras, não as reconheço
 
Dentre vários pecados graves
Sou apenas emoção que arde
Disparo fragmentos de caos
 
No cerne, a muralha da ordem
Chora sua solidão disforme
Protegendo-se de todo o mal
 

Poema 47 - Da Solidão Nihilista ao Humanismo Intimista

 
Eis tu musa, salva-me do nihilismo
Preso no vazio, sou espetáculo
Ansioso por preencher o vácuo
Conduza-me de volta ao humanismo
 
Solidão, um oceano de vastidão
É um peso vazio no peito
Na multidão sentir seu efeito
Ser obrigado a correr, sem ter paixão
 
Tossir, engasgando-se na tristeza
Encontrando mãos frias, já sem firmeza
Revivendo o ciclo de minhas culpas
 
Prisioneiro da angústia, dissabor
Frágil fugitivo da luz e do calor
Só neste espaço de trevas tão curtas
 

Poema 46 - Convite Turístico

 
Vem agora, já, foge daqui comigo
Te desprende, larga tudo, sem pensar
Não hesites, não se deixe questionar
Viajar! Adeus mundo combalido!
 
Fostes seduzida pela minha vida
Sempre de aventura em aventura
Não posso parar, sou pirata sem cura
Seja meu par nesta terra desmedida
 
Sequestro e rapto farei contigo
Veremos o céu azul no meu abrigo
No Deserto do Caos, Terra da Esfinge
 
Mas existe um teste que deves passar
Decifra-me ou irei a ti, devorar
Quando morrerá essa questão que finge?
 

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Poema 45 - Permita-me


Permitam-me em vazão poder defender
O direito moral de ter opinião
Ouvindo sem preconceitos minha razão
Para todos na praça que quiserem ver
 
Permitam-me construir uma defesa
Para não criar opinião alguma
Sendo desta multidão mais uma pluma
Ser senso comum, gota na correnteza
 
Permitam-me ser volúvel, inconstante
Contradição enérgica, retumbante
Escolhendo minha própria permissão
 
Permitam-me sempre ter, não ter e mudar
Sem vossos preceitos fúteis a me tentar
Transpirando minha própria condição
 

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Poema 44 - Para Sandra III


Sem minha clássica ironia
Faço uma simples elegia
Comentando-te em sintonia
Tuas sátiras de sinfonia
 
Tomastes as rédeas da vida
Sabes que a perda é sofrida
Aprendestes a rir das feridas
Secas as lágrimas na corrida
 
Desejo-te que tenhas meu ego
Meu sorriso, nada te nego
Estou sempre a te admirar
 
Vencestes mil sofridas batalhas
Apanhastes de frias navalhas
Teus olhos azuis não mais a chorar

Poema 43 - Para Bier II


Se o Binn e a Bier são o lado mau
Sorriso debochado sempre um chiste
Vinícius e Sandra o lado normal
Controlam àqueles com dedo em riste
 
A Bier é nitroglicerina
A Sandra, brisa de primavera
A primeira, ágil, tal qual fera
A segunda é mais colombina
 
As duas são uma só
E te conquistam sem dó
Algo apaixonante
 
Assim, montes tua defesa bem
Ou serás esmagado por um trem
Com tanta vida é viciante

Poema 42 - Para Sandra I


O que conseguiria eu dizer
Da sapeca loira fenomenal
Com seu debochado jeito legal
Que me faz para ela escrever
 
Minha contra-parte feminina
No encontro dos olhos, explosão
Nas madrugadas de reunião
Deslizas tua graça felina
 
Foi um incrível olho-no-olho
No primeiro embalo dos sonhos
Que nos entretemos a conversar
 
Surge uma química perfeita
Toda nossa tristeza desfeita
Quando nos juntamos à delirar
 

Poema 41 - Preços e Lobos


Lobo! És o homem do próprio lobo!
Vestes tuas peles de cordeiro
Dos frutos podres, és sementeiro
És sorrateiro, vil, enganas os tolos
 
És senhor visceral da triste verdade
De que todos temos nosso preço
Cada um sabe os seus apelos
Somos compráveis pela sociedade
 
Caças em matilhas nossa dita honra
Na jugular fazes brotar a vergonha
Com ofertas de selvageria
 
Nossa alma abatida, já cansada
Escorrido meu sangue em tua taça
Te banhas na minha agonia