sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Poema 85 - Fim de um Tempo


Foi o fim de um tempo
Um tempo tão bom
Que tornou-se ruim
Pois demorou para ter fim

Pensando bem, não foi bom 
O passado trocou o tom
Creio em minha pornografia

Maquiando o passado
Com um açucar já mofado
Tudo bem, nem dois pra lá ou pra cá
Se fosse tão ruim assim

Era melhor apagar, não enfeitar
Com todo esse cetim
Foi o que foi, devo aceitar
Mesmo assim, é tão bom enfeitar

Poema 84 - Caminhava e Pensava


Um dia eu caminhava
E caminhando pensava em você
Em todas as maravilhas do teu ser
No teu corpo frágil,  que com o meu, queria reter
Mas frágil, não é essa a verdade
Pensava em tuas mãos no meu corpo
Na tua respiração quente junto à minha
Nos olhos nos olhos de sentimentos não mais rotos
Pensava em coisas que só eu vejo
Viajava entre sorrisos, cheiros e desejos
Rodava no salão de baile de máscaras
Com as máscaras que caiam
Jogadas, esfareladas, rolavam pelo chão
Fiquei eu, assim, nu na tua frente, sem proteção
Tive medo, receio, pudores, por que não?
Tapei minhas partes, belas e feias, com as mãos
Mas ali parado, pensava e sentia
Cada vez mais eu percebia
Que nós nos refletiamos
Ali, continuávamos , parados, nos olhando
Vimos as chagas aos poucos se curando
Pensava e revivia, todas essas coisas
As cicatrizes ainda estavam lá
Ainda havia muito o que curar
Mas era a nudez, tão verdadeira
Que o poeta, um dia herói
Prostrou-se de joelhos
Diante da força da certeza
Deste mundo depois dos espelhos
Pois não importa, sei que dói
Mas existe algo mais forte que a dor
Que vem da beleza nua, sem máscaras
Da união dos espelhos, contra o que for
E assim, pensava eu em ti
No sorriso em silêncio do que prometi
Caminhava, pensava e agradecia
Pela queda das máscaras
Que um dia eu servia
Caminhava e pensava
E junto ao meu peito te sentia

terça-feira, 10 de julho de 2007

Poema 83 - Dor de Cabeça


Ai, minha cabeça
Até parece enchaqueca
Mas é o labirinto
Que roda, isso eu sinto

Ai, minha cabeça
Que gira pra lá e pra cá
Me faz sentir o enjôo do mar
Querendo que o mundo me esqueça

Ai, esse meu giramundo
Só falta ver aura em tudo
Porque me deixa assim, mudo

Bem que podia passar ao dormir
Porque se ao acordar, ainda persistir
Deste corpo,  irei desistir

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Poema 82 - Medo e Jardins


Quero cultivar em mim
E também junto de ti
Um infinito e duradouro jardim
Tão belo quanto sons em latim

Porque sei que meu vazio
Não vem de estar longe
Porque estou contigo sempre perto
Dentro de meu corpo, isso é certo

É difícil lutar contra o costume
De sentir essa dor que já é roupa
Me faz transpor à ti, como trouxa
Sufocando sem necessidade o que nos une

É desses sentimentos ancestrais
Como o medo de sair das cavernas
Ou a perda das alegrias tão belas
Que me faz buscar refugio nela

Mas esses medos tão viscerais
Não provem em verdade de outro
Rastejam em meu lodo roto
Buscando embaçar meu ouro

Este meu lado mal
Busca solapar de forma tal
Destruir aquilo que construo
Pelo prazer de findar o futuro

Mas tenho sim uma certeza
É que é bom que prevaleça
Triunfante contra o vazio
E contra o nada tão frio

Este meu lado bom
E que ninguém seja culpado
Ou carregue por mim o fardo
De colocar-me no certo tom

Poema 81 - Ardor da Solidão


Eu nunca achei que sentiria
Algo tão diferente da paixão
Esse amor que as vezes é caixão
Me fazendo sentir que morreria

Não por motivo aparente
Em geral, sofrimentos da minha mente
Nem tanto inseguranças ou incertezas
Muito mais, um vazio, uma tristeza

De não estar ao teu lado
Te abraçando a noite
Pedindo para sair desse valo
No qual danço como uma corte

Achava que gostar não trazia dor
Mas aqui na corte, na valsa
A dor vem da distância falsa
Criada pelo meu ardor

Ainda que tão simples seja
Esse sentimento tão puro
Se junta ao meu lado imundo
Me destruindo, causando perdas

Queria estar sempre bem
Suportar a dor como ninguém
Mas me torturo ao gostar
Porque tornei a tristeza um lar

E luto contra isso, constante
Solidão, vazio, perdição como amante
Quando só queria teu calor
E por meus sentimentos, tenho pavor

Assim, jazo eu aqui sofrido
Por escolha própria, meu motivo
Não sei ao certo o que seria
Mas teu corpo ao meu, agora eu queria

Poema 80 - Estranho Ano


Porque você não me dá valor
Eu sofro com qualquer tristeza
Porque não sinto teu calor
Meu corpo se desfaz, com certeza

Eu fico aqui me esvaindo
Minha alma aos poucos se diluindo
Porque tudo fica vazio e sem sentindo
Quando estou sozinho, perdido

Porque tudo que te entrego
É o carinho quente de meu coração
Pedindo teu carinho em oração

Quase nada recebo e triste percebo
Que entrego mais do que ganho
Nesse tão estranho ano

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Poema 79 - Fraldas e Canhões


O sorriso infantil, pegue e puxe
Equilibre-o com o ambiente
Mate o sonho, traga razão coerente
Injete o real na veia, o resto sugue
 
Pois quando fraldas e bicos
Enfrentam as rodas e os canhões
Dos porcos humanos fanfarrões
São outros que se tornam mais ricos
 
Estão fora da cadeia
Aqueles que fazem essa ceia
São campos de ação supra-sociais
 
Somos mais culpados do que eles
Pois lhes deixamos ter poderes
Fechando nossos olhos aos marginais